Pergunte a qualquer artista de Techno de Detroit qual a sua influência inicial e certamente teremos histórias sobre The Electrifying Mojo, um visionário que comandou o rádio em tempos que ainda não existiam tantas restrições. Juan Atkins em entrevista certa vez disse “Ele era um herói da cena underground” Todos escutavam religiosamente todas as noites.
Um enigma completo, Mojo raramente mostra seu rosto em público, recusando-se a ser fotografado e concedendo apenas um número seleto de entrevistas. Mojo era uma voz atrás de uma cortina ou – no seu caso – um microfone de rádio. Embora ele permaneça na maior parte um mistério, sua influência no Techno de Detroit é muito clara.
Mojo não apenas tocou os primeiros discos de techno na rádio como – “Sharevari”, do A Number of Names e “Alleys of Your Mind”, do Cybotron – mas também estabeleceu uma base sólida de “machine funk” para o desenvolvimento do Techno na cidade.
Mojo conseguiu ter uma base de fãs racialmente diversa, pois ele nunca aderiu a nenhum formato específico, o que era uma marca registrada sua, ele poderia tocar Genesis, Human League, e depois tocar Parliament Funkadelic, Prince e Kraftwerk. Ele já fez noites inteiras com Prince ou Michael Jackson por 3 horas seguidas!
O seu programa começava com uma série de sons espaciais acentuando a “descida” de Mojo para a Terra, na qual ele costumava pousar no topo do edifício Penobscot, um elemento básico no horizonte de Detroit.
Em Detroit, 1981 foi um momento emocionante de mudança e evolução musicalmente. A cena do disco se transformou em New Wave / Progressivo, e também foi o ano em que o Techno surgiu. Embora a cidade ainda estivesse se recuperando dos distúrbios de 1967 e da partida da Motown (selo da cidade que influenciou o mundo), a cultura musical de Detroit era vibrante.
No programa, sempre tinha um momento inteiramente dedicado a tocar os novos sons do crescentes underground de Detroit, bem como os sons de funk e de sintetizadores de todo o mundo. Foi nesse espaço do programa que Mojo tocou os primeiros discos de techno de Detroit. Um ano antes, o Number of Names deu uma demo de “Sharevari” para Mojo. Graças à constante reprodução da faixa por Mojo, quando ela saiu em 1981, já era um sucesso na pista de dança.
Com um talento especial para prever tendências futuras, Mojo estava promovendo uma cena e cultura que mais tarde seriam reverenciadas mundialmente como o movimento Techno de Detroit. Para Carl Craig Mojo era um visionário.
No seu programa Mojo criou varias sessões dentro dele, uma delas chamada Awesome, era dedicada aos sons undergrounds de Detroit, foi nesse segmento que ele apresentou Sharevari e Cybotron (Juan Atkins). Outro mmomento era o Lover’s Lane, um pedaço curto com algumas músicas mais lentas, mas o mais famoso era o Midnight Funk Association (esse era a única parte presente em todos os programas).
Mojo tocava um Funk e colocava em sequencia um New Wave, tipo Flashlight do Parliament’s com Gary Numan, Cars. Mojo também tocava B-52’s, Mesopotâmia e introduziu um pouco de modernidade ao som eletrônico na cidade tocando Numbers do Kraftwerk todos os dias.
Outro fato muito importante foi que Mojo apresentou o Prince a Motor City (Detroit). E, de acordo com Carl Craig, ele ainda tocava as raridades e lados B do Prince. E Prince foi um dos poucos entrevistados por Mojo em sua rádio, em 1986. Outra curiosidade era quando ela fazia o formato de batalha no ar quando ele colocava as pessoas para ouvirem duas músicas e ligarem pra radio e escolherem a vencedora. As batalhas de Kraftwerk e The Soulsonic Force, Rick James e Prince, Michael Jackson e Prince eram momentos altos do programa, e foram decisivos na formação musical dos futuros produtores de Techno da cidade. Como na famosa frase que sustenta a vocação da cidade: é juntar George Clinton e Kraftwerk com apenas 1 sequencer para fazer uma música.
Uma evolução do programa foi o Mix-A-Dome, onde ele fazia uma competição de Djs em toda a cidade. Mojo convidou todos os Djs a enviarem uma fita com pelo menos 15 min de mixagem, e no máximo de 30 min. Ele tocava um mix de um e depois do outro e pedia para as pessoas ligarem para votar em qual gostavam mais. Muitos artistas participaram do Mixadome, como Terrence Parker, Juan Atkins, Kevin Saunderson, Anthony “Shake” Shakir.
Mojo fez algo que não era só musica, ele discutiu muito sobre as questões culturais e sociais da cidade, falou sobre os crimes, sobre a violência de gangues, não era um show apenas de música, era de vida.
Nos anos 90, após a epidemia de crack, Mojo lançou um livro de poesia e prosa de edição limitada, The Mental Machine . Foi um mergulho profundo em questões políticas e sociais que afetam a cultura negra e o mundo, com poemas sobre tiroteios em adolescentes, prostituição, mães solteiras, epidemia de HIV e drogas – uma continuação de mensagens frequentemente ouvidas em seus shows.
O Mental Machine era Mojo sem a música. Era Charles Johnson (seu verdadeiro nome), desprotegido de seu disfarce quase mítico na rádio – um indivíduo apaixonado que se unia contra a corrupção e a violência política, uma voz para uma revolução pacífica e positiva. Mojo acreditava em sua missão: quando foi demitido por falar demais (em vez de tocar música) em uma de suas várias estações que passou, ele supostamente desligou o transmissor e fechou as portas do estúdio, resultando em ar morto ininterrupto – provavelmente o pior golpe para rádio local. Embora seu paradeiro hoje permaneça um mistério, há rumores de que Mojo mais tarde trabalhou como diretor de programa para algumas estações de rádio de Detroit. No entanto talvez seja melhor nem saber. É melhor deixar algumas coisas para as fantasias da nossa mente.
The Electrifying Mojo teve seu reinado nas rádios de Detroit entre 1977 até o meio dos anos 80, quando apareceu uma sucessora, Lisa Orlando. Orlando foi a responsável por colocar o rapper Eminem de 15 anos no ar – permitindo que ele fosse descoberto pelo produtor de Detroit Marky Bass, que estava ouvindo o programa dela em seu carro. Ela também descobriu, junto com o diretor de programação do WDRQ, Jim Snowden, a estrela local Jeff “the Wizard” Mills em uma boate no East Side. A história desse personagem em breve será contada.